segunda-feira, 21 de julho de 2025

 


Cicatrizes de Verão

 

Foi num verão, longe, muito longe deste,

Contudo, ao sol deste verão, brilha,

Como uma memória, onde estará a ferrugem

Daquela bicicleta, que numa derrapagem

Na areia, mais uma vez me tatuou,

Para o sempre que uma vida dura,

O joelho, longe de casa, sempre,

Mesmo em casa, o que é casa a esta hora

Da vida, quando metade fora,

O futuro metade estrangeiro,

Nunca o que esperavam de mim

Naquele ridículo rectângulo,

Esta cicatriz no joelho, uma ferida

Em mil novecentos e noventa e quatro,

Quando a casa em obras, uma pressa de viver

E uma curva apertada para sempre,

A dizer-me que ainda sou eu, o mesmo,

Aquele garoto, longe, aquela tenra carne,

Ainda, esta pele de velho, com saudades

De tudo, vontade de tudo, menos do futuro.

 

Turku

 

15/07/2025

 

João Bosco da Silva

 


O Início Sempre

 

Já há algum tempo que não preencho um pequeno vazio

De incerteza e inutilidade, a ilusão de que um olhar

Realmente toca e nos reconhece a existência sofrida e faminta,

O sol nunca foi para todos na mesma medida,

Os sonhos são reflexos grotescos do tédio que levou

Mais um dia ao crepúsculo, houvessem ao menos montanhas

Onde claramente o astro rei se enterrasse

E não a ampla beleza de um irrepetível komorebi,

Andar devagar ou não, não interessa, o destino é sempre o mesmo,

Infinitas as escolhas, as possibilidades para um único e inevitável fim,

Um resultado que só de olhos fechados, sem respirar,

Nos parecerá tão claro e isto é só o início, sempre.

 

Turku

 

15/07/2025

 

João Bosco da Silva