Duygu
Por nada, lembrei-me de ti e de tudo o que na memória falta,
Não me lembro do número de vezes em que te visitei,
Lembro-me que numa noite começamos numa cama
E de manhã acordamos noutra, tu de quatro e eu fascinado
Comigo num vai vem dentro de ti, a língua ainda manchada
De porto ou não, noutra noite, a da festa da universidade,
Quando me contaste do professor que por não teres dormido
Com ele, te prejudicou na nota, podia ter-te falado de
certos
Arquitectos portugueses, mas acabamos numa terceira cama,
Num quarto que parecia ser numas águas-furtadas,
As paredes cor-de-laranja ou apenas a luz da manhã de Junho
E vim-me até acabarem os preservativos, mas não a vontade
E então entrei em ti uma vez mais, a última vez, até o
elevador
Nos fechar definitivamente aquele belo capítulo coincidente,
Enviaste-me mais tarde um filme e um álbum, Beirut
Continua a ser a minha banda contemporânea favorita,
Falta tanto na memória, por ti li Orhan Pamuk, desterrado
longe
Num fim do mundo que se tornou a continuação da minha vida,
Por nada ou quase, lembrei-me de ti, sem o Lolita Lempicka,
Numa insónia de um Novembro demasiado cinzento,
Como sempre, para uma alma já de si demasiado densa e melancólica,
Contigo não tive sequer um momento de dor ou desconforto,
Conto pelos dedos de uma mão as mulheres que assim passaram
por mim.
26.11.2025
Turku
João Bosco da Silva

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