quinta-feira, 27 de novembro de 2025

 


Duygu

 

Por nada, lembrei-me de ti e de tudo o que na memória falta,

Não me lembro do número de vezes em que te visitei,

Lembro-me que numa noite começamos numa cama

E de manhã acordamos noutra, tu de quatro e eu fascinado

Comigo num vai vem dentro de ti, a língua ainda manchada

De porto ou não, noutra noite, a da festa da universidade,

Quando me contaste do professor que por não teres dormido

Com ele, te prejudicou na nota, podia ter-te falado de certos

Arquitectos portugueses, mas acabamos numa terceira cama,

Num quarto que parecia ser numas águas-furtadas,

As paredes cor-de-laranja ou apenas a luz da manhã de Junho

E vim-me até acabarem os preservativos, mas não a vontade

E então entrei em ti uma vez mais, a última vez, até o elevador

Nos fechar definitivamente aquele belo capítulo coincidente,

Enviaste-me mais tarde um filme e um álbum, Beirut

Continua a ser a minha banda contemporânea favorita,

Falta tanto na memória, por ti li Orhan Pamuk, desterrado longe

Num fim do mundo que se tornou a continuação da minha vida,

Por nada ou quase, lembrei-me de ti, sem o Lolita Lempicka,

Numa insónia de um Novembro demasiado cinzento,

Como sempre, para uma alma já de si demasiado densa e melancólica,

Contigo não tive sequer um momento de dor ou desconforto,

Conto pelos dedos de uma mão as mulheres que assim passaram por mim.

 

26.11.2025

 

Turku

 

João Bosco da Silva

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