Frutos do Mar e Cronenberg
Puxar do molar estilhaçado pela fúria da fome
Um mexilhão quase imperceptível de uma dor miudinha,
Um longo pé em forma de percebes, cuspir
Pedaços de lapa com ar de dente mal nascido,
Aos poucos tornámos-mos no convés submergido
De um barco que um dia chegou onde chegou,
Contudo, agradecemos os poemas fáceis,
Trazidos destes sonhos à David Cronenberg,
A maré baixa, acordamos numa confusão recém parida,
E de preocupações recentes, encontramos
A tentativa adormecida do velho convés se organizar,
Desfraldar as apodrecidas velas, para levar mais um dia
Ao poente precoce de um longo outono.
12.11.2025
Turku
João Bosco da Silva

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