No Metro
inspirado no amarelo e cinzento
As portas abrem-se e atrás das minhas costas o desconhecido,
Vazio como a escuridão imensa da minha ignorância.
Passos de quem entra também, um toque de quem tem pressa,
Um empurrão de quem não me sente como verdade.
Procuro um lugar, sento-me e espero pelo movimento que dá início à viagem.
Espero, com o meu monólogo interior, passeio dentro,
Enquanto vejo o espaço lá fora, quase cores, a passar,
Quando na verdade sou eu que passo, o metro passa,
Eu que passo no metro.
Gente a falar com a gente se dois que se conhecem lado a lado,
Ou de pé se a viagem for breve, ou porque não havia lugar.
Uns que se beijam além, jovens que ainda acreditam no para sempre.
Outros que se beijam ali, sabendo que nesta cidade ninguém os conhece,
Fugindo da prisão dos seus dias em direcção a um hotel barato.
Aquele com a mão no bolso do outro, sem carteira,
Com uma surpresa à espera na hora de pagar o café.
Uma mulher com uma criança nos braços a ser mãe,
Enquanto ao seu lado um idoso se curva sobre si mesmo,
Com o peso da dor acumulada sobre as costas frágeis.
Este aqui a ler, a ser dentro o que o dentro de outro lançou para fora,
À sua maneira.
Eu nada. Olho, faço desenhos no ar com a cabeça, sem me aperceber,
Os olhos como se um nistagmo horizontal a tentar seguir as cores lá fora,
Que fogem sem ter percebido ao que dão a cor.
Eu nisto, a olhar, à espera até que o metro pare,
Até chegar à estação onde terei que sair.
Pára, levanto-me, abrem-se as portas, saio e chego ao Nada.
30.03.2010
Savonlinna
João Bosco da Silva
"Uns que se beijam além, jovens que ainda acreditam no para sempre."
ResponderEliminarLindo pá!!!
E o fim, "chego ao nada". Que porra de coisa bonita!!!
Tá nos meus favoritos!