quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011


Palavras Num Quarto Vazio



a quem me quis morrer,



E o fim, pouco mais é que isto, que o agora, mas que dura inconscientemente,

Sem se sentir, como um cadáver levado pelas águas de um rio infinito,

Um rio chamado fim, eterno, escuro em linha recta até ao fim dos tempos.

Se soubesse antes de poder saber coisa alguma que isto seria assim,

Que eu seria um monte de palavras dentro, com um homem pequenino

Na cabeça, no coração (dizem alguns), a tentar dar-lhes um sentido,

Dar-lhes um significado, uma justificação além de hormonas e neurotransmissores,

Neurónios cansados das noites até à noite e do álcool até tudo deixar de fazer sentido

E não me importar com isso, preferia ser uma pedra desde o princípio,

E passar a eternidade até a erosão se cansar e perceber que não passo de uma pedra.

Tantos sorrisos perdidos nos sonhos frios, tantas palavras não ditas no silêncio

Da distância, tanta carne evitada sem razão, só porque uma ideia a ser mais importante.

Que ideia pode ser mais importante do que algo que nos cabe num punho fechado?

Não se acredita no que se procura, por isso nunca se encontrará, passa-se

E nem se vê, às vezes porque parece demasiado fácil, outras porque não vale a pena

Se é tão difícil e a vida continua sem um sentido, sempre em frente até ao rio fim.

Se os cães ao menos três cabeças quando chegar a minha hora, ou algo pior,

Mas algo, pelo menos algo, porque isto soube-me a tão pouco, soube-me a quase,

E saber a quase é pior do que saber a nada. A vida parece uma amostra

De algo que não existe além da vida, uma provocação do acaso, um beijo que fica

No canto da boca a latejar durante anos, um quase orgasmo, pequenino, apressado.

Tanta alma perdida, sem alma, corpos convencidos de que uma salvação qualquer,

De uma forma qualquer, sempre sós, sempre com medo, sempre em busca de outro,

De alguém para partilhar um momento no crepúsculo, um pedaço do que têm,

O corpo, uma pausa na dor, a própria dor, porque no fim irá sempre doer,

Alguém irá sempre sofrer, quem vai pode ter sofrido, pode continuar a sofrer,

Quem fica sofre, ou não quer sofrer, ou não consegue porque está vazio.

E o fim, será pouco mais que isto, ou pouco menos que isto, menos uns olhos abertos,

Um corpo que se move, uns sonhos que aborrecem o presente quando trazem o passado,

Ou um passado que podia ter sido, mas não foi e agora não vale a pena nem sonhar,

Uma ligeira dor de cabeça, os sons da escuridão no quarto silencioso, o som da água a correr

Algures, ou o sangue a fazer eco na almofada da insónia, pouco menos, pouco mais.



17.02.2011



Turku



João Bosco da Silva

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