Uma Heineken no Infinito
para o meu tio Maurício,
Porra! Olho à minha volta e parece que ainda me cheira a medo de sueca
A dizer, outra vez e agora és tu e não consigo ser mais que um, quase que me asfixio
Com a ideia, há mil e muitos anos pequenos atrás, dos que são possíveis numa vida,
Com uma caneta emprestada de um hotel qualquer numa cidade que tento inventar
Todos os dias e amanhã (e, e, e) estarei só, sempre, desde que deixei de acordar
Naquela terra pequenina e tão grande, com o mestre a acreditar no amor de dezoito anos
Aos vinte e oito e eu também ou quase. Mais um golo de cerveja às tantas das tantas de tantas
E eu (e, e, e) só um, mesmo que as promessas me chovam como gotas frias das primeiras
Chuvas de Setembro. Não se pode fumar, não se pode viver, não se pode olhar, nem ser
E custa a estas horas de um dia que não será o último com quase certeza, quando amanhã
A puta da definitiva me andará a dar quase dores de cabeça, mesmo que seja a de um jovem
Da idade do meu pai (tenho saudades tuas homem das mãos de homem de verdade),
O meu avô, sempre o meu avô, fumou, bebeu e a vida tão boa quando se gasta, se usa
E que se lixe, é só uma, ninguém quer verdadeiramente perdurar sem sentir, para isso
Já há a morte. Ninguém sabe, nem eu, ó, eu que tenho a puta da mania de ser o maior
Ignorante deste mundo para o fim, como todos, sem universos paralelos, nem cigarros
De anos proibidos, nem beijos perdidos, nem cervejas roubadas, nem horas escondidas,
Nem mulheres molhadas e nem, e nem, sei lá, quem saberá. Ninguém me fascina, ninguém
Que me foi os meus dedos, a minha carne e à minha volta. O mundo não interessa
Quando se está à beira de um rio, de uma biblioteca, uma mesa de blackjack e nem
Um filho da puta que seja capaz de dizer o meu nome.
O mundo merece olhos fechados, sem vontade de amanhã.
11.02.2011
Turku
João Bosco da Silva
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