Vomitar Com Sinceridade
Não há ninguém capaz de falar nos olhos neste mundo de aparências,
Tão difícil dizer, não, não é, é horrível, mas deixa crescer, ainda não,
Ou pelo menos silêncio, já há muito barulho no convés da hipocrisia,
Já há suficiente vazio enquanto as turbinas começam a varrer as ilusões
Deixando a descoberto tudo aquilo que somos e somos tudo menos o pouco
Nada que se leva em duas malas cirurgicamente pesadas, comprimidas
Como a saudade que se vai expandindo com o esticar dos segundos pelo ar pesado.
As noites deixam-se cair, escuridão em avalanche, mesmo que o dia persista,
Encontros de uma noite, para o nada, como a vida, uma luz na escuridão,
Tão repetidamente questionada a razão, quando é apenas uma: vivê-la,
Não esperar, porque se tem a eternidade e a eternidade não é de ninguém,
A não ser que mártir ou o anti-cristo e eu prefiro o anonimato dos meu inferno pessoal.
Mesmo que venha um colapso no meio de uma multidão, olhos cegos,
Longe da sífilis de Nietzsche, sem o chumbo a espalhar sumo de laranja, escritor e chumbo
Numa parede em Idaho e o peru já está pronto Sylvia, tira daí as ideias,
Serei mais uma luz invisível que se apaga e com sorte ficarão umas palavras
Que não serão o que quiseram ser, emoções que pingam dos dedos
Para olhos secos, que só vêem o que dentro, não se podem condenar,
Somos animais para dentro, por isso sabe tão bem entrar dentro dos outros
E não há nada melhor, poesia mais directa que ver a transformação
De um sorriso num gemido, uma boca silenciosa numa gata assanhada,
Uma santa hipócrita numa puta sincera, abre-se o abismo e tem-se por minutos
A noção do infinito, que se perde, enquanto o suor ainda escorre e futuros nadam
Em direcção às possibilidades infinitas que se perdem na descarga do autoclismo.
22.05.2011
Turku
João Bosco da Silva
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