Vai-te Deitar Que Eu Vou Dormir
Sorri-me nesse abismo, tão cerca de um pestanejar aflito no limiar do fim da infância,
Mas não tenhas medo, a excitação dos dedos apagou o calor do teu interior e no resto
A calma de um acordeão eterno, um morto que afinal encontras numa rua demasiado familiar
E tudo mais eterno do que aquilo que tu pensavas, arrependes-te, porque a morte mais longe,
Estupidamente esperavas que fosses especial, sem música e outras drogas, ainda cá, tu,
Vai-te deitar rapaz, que o teu mal é sono, garota. Abre bem esses braços, são a tua vida, o que vale
A pena, se um dia viveres até lá e tiveres saudades. Vou-te contar um segredo: o melhor poema
São aquelas palavras que vêm da saudade impossível pela distância, mais pelo tempo,
Porque não há sonhos como o desejo de outros tempos outra vez, não há sonho mais impossível.
Humedece um lenço de papel com a felicidade quase salgada daquela visita à aldeia
Que não és tu, cada vez menos tu, mas algo se move longe, além das montanhas que nunca conheceste,
Perguntaste porque será, os filhos dos teus amigos respondem-te com um sorriso que temes,
Mas é a verdade e nunca saberás, porque amanhã serás apenas a possibilidade do que serás amanhã,
Nunca tu, cheia de esperança na eterna cama daquele quarto que deixaste ainda com vinte e poucos,
Em Guimarães, Porto, Bragança, Tenerife, Londres… a sério que Paris também(?),
Pergunto-me se estas cidades, desde as grandes às maiores, te provocarão maiores dores de dentes,
Por palavras, omissões de actos cessados, no futuro apenas presente, aborrecimento e humidade
Da que espera, da que seca, da que morreu e agora a máquina de escrever de Borroughs,
À espera de Keroauc, Corso e o cu de Ginsberg a julgar-se melhor que Pessoa, com Pessoa a ser o infinito.
03.08.2011
Turku
João Bosco da Silva
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