Aquela Miúda Das Limpezas
Não é loira, se fosse loira não interessava, é um branco prata e eu, afinal um lobo fascinado
Pela luz da Lua naquela cabeça de lagos profundamente azuis, onde quero mergulhar,
Enquanto sinto aquele corpo pequeno a derreter-se à volta do meu desejo doentio.
Temo o seu cheiro e mantenho o sorriso à distância para que não se note que não sou
Grande domador de leões. As suas ancas são mais que água fresca, fluidas, numa montanha
De verão abrasador para a sede que o sal da sua pele morena, brilhante, e todo eu uma traça
Em direcção à sua presença de sorriso tímido e olhar provocador que procura sarilhos
E sei que tem unhas, têm sempre húmidas unhas e mesmo tendo eu sido amestrador de
Hienas no circo de feras infernal, sinto uma vontade de medo quando ela passa, de azul,
Pequenina, do tamanho de um abraço para a perdição, quase ilegal, voltando a cabeça,
Tentando ser espelho do meu fascínio velado, a caminho da mais uma casa de banho,
Arrastando o carro de limpeza, o que resta da minha alma algures no caixote de lixo,
Empurrando mais fundo a consciência dos meus anos e nasce uma revolta em forma de pergunta:
Por onde andaste, quando eu ridículo e da tua idade? Agora velho e ainda mais ridículo.
Passa, passa e leva tudo e o teu nome e a tua voz que ainda vibra e parece que é na caneta,
Mais fundo onde se tem pena das gotas de esperma desperdiçadas nas gargantas desesperadas
Por um abraço que me custou, quase como ver-te passar tão vazia de mim, tão vazia da vontade
Da minha vontade. Passa, passa, vai lavar a casa de banho, pode ser que me encontres por lá,
Noutros tempos, à espera da descarga do autoclismo, ou nos sonhos coincidentes de quem
Já não tem sonhos e deixa passar por respeito à frágil beleza da ilusão de uma inocência
Capaz de um orgasmo com o toque quente com o brilho lunar nas aréolas rosadas.
07.08.2011
Turku
João Bosco da Silva
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