A Cidade Um Poema
Às oito da noite os autocarros seguem-se cheio de olhares vazios, olhares cansados
Por mais um dia, em casa provavelmente nada mais espera que uma televisão silenciosa,
Uma refeição apressada, um gato, um cão e o peso das palavras todas que ficaram por dizer,
O telefone espera que alguém seja além das paredes e o poeta caminha cheio de si,
Com vontade de trincar o frio e as árvores nuas, convencido que ele a plateia do mundo,
Um teatro triste que ele escreve como se disso dependesse o juízo final, a testemunha
Do vazio que é a vida, tão pouco com a responsabilidade de vencer a eternidade,
Sabendo-se que é uma tarefa impossível, e gasta-se o tempo em nadas, em olhares
Vazios, abatidos pelo tédio e pela repetição dos dias, que mentem e nunca são iguais,
Mas não se consegue ensinar a ninguém, como encontrar a beleza num espelho partido,
Acorda-se assim, com uma fome nos pés, tornando os passos num poema que se escreve
Dentro, procurando nos bolsos um pedaço de papel, uma caneta, mas só o isqueiro
E os cigarros, a resignação despreocupada de ver a cidade que se escoa como um poema,
No vazio das portas fechadas. As janelas que se acendem, o cheiro do alcatrão, dos pneus
Que seguem com as vidas que levam, às voltas, o poeta fora, à espera de uma cor, a ser
Ninguém para os olhares vazios, que não o inventam, mas não interessa não existir,
O verde empurra mais umas palavras e no sentido inverso, alguém com o Sol que não
Veio e o azul que não se quis mostrar, sorri, e sem palavras, sem papel, a cidade um poema.
07.11.2011
Turku
João Bosco da Silva
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