A Vida É Esta Treta Que Toda A Gente Bem Desconhece
E a vida é esta treta que toda a gente bem desconhece, inventaram-se palavras para lhe dar
Forma sentido, insuficientes, pequenas, sons inúteis no silêncio sideral, passa-se o tempo
A tentar fazer o tempo passar, como se os segundos dependessem da televisão ligada,
Da música a impor um humor, um ritmo ao coração que tudo estranha, que se sente
No meio de uma multidão de estranhos, todos os dias, mesmo em quartos vazios fechados
E folhas em branco, ou manchadas de vinho que diz-se, também ajuda, e começa
A parecer que a vida é apenas a crença de existir e tudo o que temos dentro são palavras
Que espremidas gotas de hormonas, as tais emoções que dizemos ser, um saco delas,
Freguesa que hoje estão fresquinhas e baratas, vendem-se pelas ruas onde o peixe apodrece
Escondido dos olhos e só o cheiro a becos escuros nas noites citadinas onde uma puta
Ocasional suga os filhos do futuro impossível, engole-os a todos de uma vez por cinco euros
E já pouco há a sujar na alma dos perdidos, nem as palavras pesam quando o esperma
Escorrega pela gola abaixo como mais um golo de whisky quando a noite já muito negra,
Rouba-se mais um pouco de aniquilação na explosão de uma super-nova química,
Ilumina-se a árvore de Natal em forma de universo e lá se vai mais uma vez para “casa”,
Encerrado o dia na solidão de um sofá queimado de cigarros, o espelho do interior abatido
Pelos anos de tanta espera pelo melhor que tarda mais que uma vida a aparecer.
01.12.2011
Turku
João Bosco da Silva
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