domingo, 22 de janeiro de 2012
Suicídio Lento Dos Cobardes
Somos apenas o resultado do assalto do impossível ao nada.
Alguém dispara uma velha caçadeira contra a noite para afugentar o fantasma do suicídio,
Todos os cães ladram e algumas luzes dos vizinhos acendem-se e apagam-se com a maior
Indiferença, a lareira já fria codifica os segredos em cinzas, as confissões daquelas crianças
Mortas, enterradas em corpos viciados em pecado e obcecados no aperfeiçoamento
Da demolição dos sonhos que se tornaram antigos e foram trocados por alívios baratos
Em becos escuros e breves, o lixo é espalhado pelo vento como boatos infelizes
E nas ruas nasce um silêncio falso, o cheiro a pólvora dissipa-se como a escuridão
E um azul triste toma conta do parto de mais um dia, secam-se as lágrimas em mais
Um copo vazio adiando o sono com a falta de vontade, esquece-se a razão da forca
Pendurada à espera, quando uma carroça passa atravessando o frio da madrugada,
O trote lento sacode a incerteza, já não há mais cartuchos e a garrafa está vazia,
No fim é o vazio que sempre vence, os cães voltam a ser de gente e o mundo
Ganha o sentido de torradas quentes e café acabado de tirar, instala-se o arrastar
De pés até a luz se despedir da ordem postiça do mundo e regressar o fantasma
Do suicídio, a gente deita-se e leva para a cama as mãos sujas com o próprio sangue,
Mais um suicídio lento dos cobardes, aquele que dá tempo ao arrependimento.
22.01.2012
Turku
João Bosco da Silva
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