Durar A Vida
Durar, carne que sonha a vida de poucos, recordar, tudo o que não se é mais
E se arrasta como um amante abatido pelo destino, abrir Platão na noite
Quente e encontrar a madrugada enquanto uns nascem em cavernas,
Outros fecham cavernas dentro de si, outros só fome, outros da que se
Mata com pulsos cortados e fracos de benzodiazepinas cheios de ar,
Cansar, o mundo com o nosso tédio, engolir o esquecimento e acreditar
Que a amizade é uma eternidade do momento, como o amor
Enquanto o esperma seca e não seca, enterrar o ridículo com Nietzsche
E sonhar colapsos redentores na solidão de uma multidão de ovelhas
Obcecadas por símbolos, fascinadas pela sua ignorância que preenche
Todas as dúvidas, escrever, como se em cada palavra a salvação do mundo
Mais próxima, quando não passa da transcrição da entropia percebida
Pela carne, durar, sem outra razão a não ser acreditar, sem esperança,
Nos romances que nos leram para crescermos iludidos e felizes,
Para acabarmos mirrados desiludidos e tristes, mesmo debaixo de uma noite
Estrelada em Agosto, com o peso do firmamento a apontar-nos
A nossa mortalidade, nós também feitos da morte de estrelas, nesta pedra
Onde tudo dura, dura, ao Sol numa dança constante com a melancolia,
Abraçar, a perdição como a única certeza, querer apenas mais um dia
Para tentar fazer o último valer a pena, da mesma forma que os filósofos
Provam que os que morreram estavam errados, os outros o único
Inferno possível, quem não dura mais em Montparnasse, a consciência
De si mesmo a maior partida do universo a ele mesmo, pedaços de mim
Que se sentem a durar, durante o que é a minha eternidade, que se
Criam e destroem, onde nada se cria nem se destrói, chorar, porque os
Poentes nunca mais ao lado do seu perfume, ejacular, a explosão de
Uma super-nova, sentir que um nada adiado tem o poder de novos
Universos, dos que duram e dançam com a melancolia, dos que vivem
E dos que dizem que vivem e se procuram onde nunca estarão,
Porque desconhecem que a sua existência depende do fim.
17.03.2012
Turku
João Bosco da Silva
o meu fb fodeu-se de vez, nem consegui ver se disseste mais alguma coisa. acho que o problema é mesmo do meu computador, oh well.
ResponderEliminarportanto se quisermos falar lá terá que ser por aqui, o que é sempre muito agradável (ou não).
o conto anda a progredir, mas não consigo perceber se é o conto que está cansado ou se sou mesmo eu.
quanto a ti espero que estejas bem e quanto a este poema já disse o que pensava no parafilias.
agora vou buscar um remendo para coser o buraco *
um beijo