À Espera De Uma Assistolia
Continuam a passear os cães, cada vez mais pequenos, falam de democracia
Como de deus, mas a deles é sempre a melhor, a mais certa, de barriga cheia
Torna-se ateus místicos, sonham em foder todas as mulheres do mundo,
Multiplica-las por mil e ir contar aos amigos, quando nem uma conseguiram
Fazer vir de verdade, esperam príncipes encantados enquanto atendem
Os que vêm vindo nas esquinas da vida e exigem do cliente fidelidade,
Não suportam a cegueira dos árbitros, as suas injustiças, pagam para as ver
E passam por um pedinte caquéctico como se fossem cegos sem cão guia,
Não sabem que a vida é encher os bolsos com ampolas de adrenalina
E esperar pela assistolia, e o que fazemos agora, esperar pela eternidade,
Com cães mais invisíveis, um coração maior que não pulsa, ilusões do tamanho
Da morte, um nome como universo, ou eternidade, um deus adormecido
À espera de mais garotos com medo, com dúvidas que não aceitam
E inventam outras razões à vida, dissecam-na em números, vivem-na
A vê-los a pingar, como se gotas vermelhas, à espera de uma assistolia,
A vida como uma noite, antes de se adormecer na ausência de sonhos.
13.03.2012
Turku
João Bosco da Silva
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