terça-feira, 13 de março de 2012



À Espera De Uma Assistolia


Continuam a passear os cães, cada vez mais pequenos, falam de democracia

Como de deus, mas a deles é sempre a melhor, a mais certa, de barriga cheia

Torna-se ateus místicos, sonham em foder todas as mulheres do mundo,

Multiplica-las por mil e ir contar aos amigos, quando nem uma conseguiram

Fazer vir de verdade, esperam príncipes encantados enquanto atendem

Os que vêm vindo nas esquinas da vida e exigem do cliente fidelidade,

Não suportam a cegueira dos árbitros, as suas injustiças, pagam para as ver

E passam por um pedinte caquéctico como se fossem cegos sem cão guia,

Não sabem que a vida é encher os bolsos com ampolas de adrenalina

E esperar pela assistolia, e o que fazemos agora, esperar pela eternidade,

Com cães mais invisíveis, um coração maior que não pulsa, ilusões do tamanho

Da morte, um nome como universo, ou eternidade, um deus adormecido

À espera de mais garotos com medo, com dúvidas que não aceitam

E inventam outras razões à vida, dissecam-na em números, vivem-na

A vê-los a pingar, como se gotas vermelhas, à espera de uma assistolia,

A vida como uma noite, antes de se adormecer na ausência de sonhos.



13.03.2012



Turku



João Bosco da Silva


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