“O Que For, Quando For, É O Que Será O Que É”
Tenta-se registar o esquecimento de mais uma noite, mais uma visita ao paraíso
Dos inconfessos, mas só resta como prova o cigarro que os lábios vermelhos
Enrolaram, no bolso do casaco, os lábios que repetiam como se um olhar,
Silenciosos, quero-te, quero-te, fica esta noite comigo para te perder para sempre,
Entre o cabelo a improbabilidade do perfume que se quis levar para os sonhos,
Uma sede de excessos numa boca que parece ter sido incendiada na noite anterior
E foi, lábios em brasa de uma boneca de porcelana imperfeita, nos pulsos
As cicatrizes de uma dor que mais ninguém compreende. Mais uma oração
Engolida da lata de cerveja, pedindo a bênção do esquecimento, entretanto
Os lábios vermelhos desenham no ar promessas de pele húmida, suspiros,
Espasmos, aniquilação gratuita entre paredes estranhas, com o DJ de boxers
E um chapéu à Davy Crockett, passando músicas que ainda não foram criadas,
O surrealismo da realidade no paraíso dos inconfessos, as noites esquecidas
Que se tentam registar enquanto as recordações areia por entre os dedos
Que escrevem, e perguntam, para que bebes, se te perdes, se não trazes
Nada do que levas, para me perder, para brincar à vida na vida,
Também as mãos de terra encerram a noite das noites, o esquecimento
Das mãos vazias, sobre o peito, mas no coração já nada, coagulado o poema
Do que se esqueceu, outras noites como outras vidas, outras cervejas,
Olhos que falavam como os lábios vermelhos, as mesmas promessas
Noutra língua, o mesmo significado todas as promessas, o esquecimento.
20.03.2012
Turku
João Bosco da Silva
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