terça-feira, 20 de março de 2012



“O Que For, Quando For, É O Que Será O Que É”


Tenta-se registar o esquecimento de mais uma noite, mais uma visita ao paraíso

Dos inconfessos, mas só resta como prova o cigarro que os lábios vermelhos

Enrolaram, no bolso do casaco, os lábios que repetiam como se um olhar,

Silenciosos, quero-te, quero-te, fica esta noite comigo para te perder para sempre,

Entre o cabelo a improbabilidade do perfume que se quis levar para os sonhos,

Uma sede de excessos numa boca que parece ter sido incendiada na noite anterior

E foi, lábios em brasa de uma boneca de porcelana imperfeita, nos pulsos

As cicatrizes de uma dor que mais ninguém compreende. Mais uma oração

Engolida da lata de cerveja, pedindo a bênção do esquecimento, entretanto

Os lábios vermelhos desenham no ar promessas de pele húmida, suspiros,

Espasmos, aniquilação gratuita entre paredes estranhas, com o DJ de boxers

E um chapéu à Davy Crockett, passando músicas que ainda não foram criadas,

O surrealismo da realidade no paraíso dos inconfessos, as noites esquecidas

Que se tentam registar enquanto as recordações areia por entre os dedos

Que escrevem, e perguntam, para que bebes, se te perdes, se não trazes

Nada do que levas, para me perder, para brincar à vida na vida,

Também as mãos de terra encerram a noite das noites, o esquecimento

Das mãos vazias, sobre o peito, mas no coração já nada, coagulado o poema

Do que se esqueceu, outras noites como outras vidas, outras cervejas,

Olhos que falavam como os lábios vermelhos, as mesmas promessas

Noutra língua, o mesmo significado todas as promessas, o esquecimento.



20.03.2012



Turku



João Bosco da Silva


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