Palidez De Um Black Label II
O Johnny Walker Black Label adia-me os sonhos e continuo numa insónia
Forçada, contra a violência de piercings em mamilos, beijos alcoólicos,
Pelas ruas vomitadas, que descongelam e a vida parece ter passado pelo pior,
Resta apenas o fim, os abraços demasiado barulhentos, as despedidas
Num olá, as mensagens (quero-te foder os miolos agora,
Mais uma) à beira do colapso no sofá onde se tenta encontrar
O sentido a tanto ridículo, tanta prostituta barata, pega paga com humilhação,
Tanto vendido à troca de um pouco de menos ele eu, nele tudo, o cansaço
Até à despersonalização, a garrafa de vinho respira, os avós asfixiados
Com tradição e sete palmos de terra nos olhos, apenas recordações
Nos nossos cérebros de donos imortais do universo, por isso engulo
À deles, um pouco mais de menos eu, por isso tento aliviar a presença
Metálica sempre tão perto do outro lado do pescoço, só tenho por companhia
Os cães, os bêbados são apenas outras versões do que não sou, mas poderia
Ser, mas o que poderia ser não é e interessa como todos os convites
De pernas abertas, enquanto a primavera chega nas asas das gaivotas
À beira dos lagos que descongelam e permitem o peixe fresco, como as ratas
Bem aparadas, bem bebidas, quase uma submissão insensível
Enquanto se equilibra um orgasmo nos joelhos pouco crentes em ejaculações
Em vazios, mas és tu Black Label, com as tuas intenções de liberdade
Aprisionando-me num não eu, apresento-te os pulsos, reconheço a minha culpa
Na vida, nunca fui capaz de tornar a ideia da eternidade numa realidade
De cadáver inerte, ao abrir uma porta há dias fechada e o cheiro
A merda e silêncio, a vida só merda e sabemos, no fundo, que não
Merecemos a vida, nunca antes de não sermos, fizemos nada para
A merecer, tal cruel privilégio oferecido à impossibilidade que se torna e é,
(Bebe pequena, bebe, deixa a noite tornar os teus sonhos pecado,
Deixa-me ejacular nessa tua ilusão de santidade prostituída, ser mais uma mentira,
Quando tudo cedido ao poder, por poder, é prostituição),
Abraço por isso a morte, como todo o anti-poder, abraço-a cobardemente,
Como se abraça uma ideia pela qual outros morrem, morreram,
Beijo-a lentamente e os seus lábios são os teus dourados lábios negros,
Tudo tão obvio quando não há Sol, tudo tão simples quando a noite
Esconde a pobreza debaixo de papelões, o frio em demasiados goles,
Carne faminta que se torna demasiado barata, em casas caras,
Desconfortáveis no seu conforto de plástico, metal e fibras sintéticas
E nem o amor de carne, um medo plastificado, uma vida recusada,
Porque se quer só brincar às mortes pequenas, sem comprometer
A irresponsabilidade de se poder estar só até à morte, quando na verdade
Vive-se só, e só na morte, se encontrará a igualdade que se procura,
A aceitação do infinito durante a eternidade, o irrepetível.
21.03.2012
Turku
João Bosco da Silva
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