quarta-feira, 18 de abril de 2012



“Chasing Shadows” Enquanto Se Espera


de Django Reinhardt


Vive-se a tentar jogar xadrez com as peças brancas e com as peças pretas, para no fim
Tudo fora do tabuleiro e nem se chora, a terra exige toda a humidade acumulada
Ao longo dos pecados, dos sonhos trocados por nadas que também não se levam
E o nome torna-se em tudo o que conquistamos, quando nem ele uma escolha nossa,
Mais um acaso, como poderia ter sido outro qualquer, mas fomos tornando-nos nós,
Com um cérebro com tendência para isto e para aquilo, para coisa nenhuma, para
Abismos e vazios, para ilusões e desilusões, esquecimentos e pesadelos recorrentes,
Vive-se concentrado no centro de um universo limitado quanto muito, pela pele,
Entre uns centímetros cúbicos onde se fabrica a realidade e tudo o resto
Que nos faz a vida tão pesada e às vezes julga-se o mundo uma grande encenação,
Tu o único, todos os outros um teste, talvez para averiguar se és merecedor da eternidade,
Como se a morte a recompensa suprema pela coragem de ter sido, uma minhoca,
O andar de uma hiena, a resistência das betalactamases ao esforço dos centímetros cúbicos,
E a vida mais vezes um bilhar de bolso, numa multidão de ensimesmados, narcisos
À espera da morte, à espera que o rio seque, que a tinta acabe, que as palavras
Deixem de corresponder a seja o que for, quando na verdade correspondem apenas
Àquilo a que as fazemos corresponder, coincidindo tão poucas vezes nos conceitos abstractos,
Por isso lágrimas e punhos cerrados quando nos falham, quando não chegam
E ejaculações quando já não valem mais que um gemido, um pedido, uma aceitação,
Sabes que te perdes a cada avanço, mas se não avanças, estás perdido num lugar que conheces.


18.04.2012


Turku


João Bosco da Silva

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