Um Poema Sob Saudade Turca
Cortada pelos óculos de sol enormes, as tuas pernas cruzadas, até ver, lias algo que hoje
Daria outras recordações por saber o quê, e o rio esperava-nos, o dia dependia de nós juntos
Para se dignar a apagar a luz e nem sei quantas horas dura a eternidade, mas a que tu
Me ofereceste, tornou aquele dia num fósforo nesta vida cheia de vento e tantos nadas.
Enquanto o Sol se ia despedindo, também os copos de cerveja, de plástico, comprados
Numa tasca ali perto, os barcos rabelos para inglês ver, e eu e explicar-te com a língua
A história disto tudo, enquanto tentava escrever na tua pele poemas que só mais
Tarde tomariam a forma de palavras, muitas vezes antes de adormecer, as saudades,
E quem nos visse diria que não tínhamos vergonha nenhuma, mas se conhecessem
O brilho da vontade, achariam que a roupa estava a mais e que os meus dedos
Continham toda a minha vida, eu todo em ti, no crepúsculo à beira do Douro
E hoje os dedos só isto, a dor da tua ausência, tantas vezes só, na companhia de gemidos
Falsos, por favor a quem, pergunto-me, mas tu não conheces certos objectos
Que não acreditam no amor, não procuram ser amadas, exigem respeito de quem
Acredita nelas, pedem humilhação paga, claro que paga, nem um olhar seu é gratuito,
Sentem aversão pelo carinho e repugnância por quem as ama com sinceridade,
Oferecem-se à maior oferta, e acreditam que o seu valor é mesmo o da futilidade
Pela qual se vendem, e falo do amor que não foi amor nenhum, só aquilo que te dei
Sem tu me pedires, que foi todo, dei-me todo, esqueci-me do mundo quando
Tu a tornar importante apenas aquela esfera de Lolita Lempicka à tua volta,
Afinal o universo um tamanho definido que te rodeia e eu humanidade curiosa por explorar
Todos os seus segredos, mais uma cerveja e o horizonte já púrpura, acendes um cigarro
E os meus pulmões a desejar o fumo que acabaste de inalar, e tu a encher-me de ti,
Do teu fumo perfumado, quem sabe, se acreditasse, um pouco da tua alma, passa
Alguém conhecido e eu bêbado de ti sorrio-lhe, como quem foi apanhado num pecado bom,
Tu o melhor pecado das minhas migalhas de hóstia, contas-me um pouco do teu caminho
Que eu beijo com a minha atenção, e sonho que a eternidade é a tua presença
Quando ela é possível, por isso desculpa-me esta traição, este querer trazer-te comigo,
Tão longe do tempo, tão longe de ti, ainda respiras e isto deveria ser a carta que nunca
Te escrevi, a resposta à fidelidade da tua memória, tanto esquecimento neste mundo
Sôfrego de passar e morte. Sabes que faço parte deste mundo, mas sou dos que quer tudo
E quer morrer, porque tudo impossível, só a vontade, só um momento e as eternidades
São só a resposta que se tenta encontrar num poema, mas saudade, não responde a nada.
12.04.2012
Turku
João Bosco da Silva
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