Dizem que há
crise João, dizem que há crise e os cafés estão cheios enquanto tanta terra
Ao abandono,
à espera de uma semente, dizem que há crise, mas nunca vi a gente tão gorda,
Tão preguiçosa,
tão mal habituada e bem calçada, eu e os meus irmãos, andávamos descalços,
No Inverno e
quanta fome passamos, isto não é nada, a mim obrigaram-me a ir matar pretos
Lá na terra
deles, lembraram-se de mim, cresci esquecido e o meu país só se lembrou de
Mim para me
mandar matar, e o meu irmão que morreu por uma merdinha que hoje
Era um caixa
de antibióticos e já está, a engordar, agora isto, crise, é tudo doutor,
Festas todos
os dias, dizem que estudam mas só os vejo com cerveja na mão, livros nada,
Mas tu sabes
como é, já foste doutor, agora olha, eu foi a França, tu lá longe, e Portugal
Agosto, mas aproveita,
que os anos passam e nós cada vez menos, só a memória
E é o que
somos, o que lembramos e dava tanto por esquecer tanta coisa, nunca os
perdoarei,
Não os
conhecia e tive que os matar, e tinham que nos matar, filhos da puta, os
pançudos aqui
A encher a
blusa, os de agora fazem o mesmo, chupam-nos o sangue, usam-nos a carne para
Canhão, gozam-nos
com os ossos e ainda nos pedem a medula, a alma é o primeiro a ir,
E agora
queixam-se que isto está mau, que há crise, enquanto tivermos uns porcos
Para matar,
e a indiferença da ASAE, eles gostam bem do salpicão, ai não, haja vinho e
olha,
Saúde, que
com o resto não se pode contar, nunca se pôde contar, tu aproveita mas é.
13.05.2012
Turku
João Bosco
da Silva
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