O Encoberto
A escola
obrigava-me a acordar, hoje é o cinzento e escurece lá fora, mas cá dentro
Já há anos
que a luz das velas se tornou obrigatória, para se ver o teatro do fazer
Valer a
pena, a escola mostrava-me o mundo entre quatro paredes, em segurança,
O mundo uma
esfera num quarto escuro cheio de possibilidades para nada,
Com derrotas
certas e a ilusão da victória, por isso o vinho do porto mais que um cálice,
O vinho do
porto chapa contra tudo o que se aprendeu, porque nos ensinam não a viver,
Mas a sonhar
e quem se fia na virgem e não corre, morre virgem, fez da vida o desperdício
Em vez de
desperdiçar a vida e o triste além de triste, torna-se no pior, em tédio
E viver
aborrecido é ter vontade de morte e ter vontade de morte não é viver,
É ser
cobarde e esperar pelo óbvio e inevitável e eu sei tão pouco para mim mesmo
E tanto para
os outros, porque é sempre fácil, piscar o olho a quem passa lá fora,
É sempre
fácil quando não temos a carne demasiado carne à nossa volta,
A exigir-nos
eternidade em tão pouco tempo, e chove, e os carros passam
Não muito
longe e esperam, os colegas, os amigos, num lugar onde fui e não trouxe,
Mas sou, e hoje
acordo só por causa do cinzento, a sua promessa de bruma, ao menos isso.
10.05.2012
Turku
João Bosco
da Silva
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