quinta-feira, 10 de maio de 2012


O Encoberto

A escola obrigava-me a acordar, hoje é o cinzento e escurece lá fora, mas cá dentro
Já há anos que a luz das velas se tornou obrigatória, para se ver o teatro do fazer
Valer a pena, a escola mostrava-me o mundo entre quatro paredes, em segurança,
O mundo uma esfera num quarto escuro cheio de possibilidades para nada,
Com derrotas certas e a ilusão da victória, por isso o vinho do porto mais que um cálice,
O vinho do porto chapa contra tudo o que se aprendeu, porque nos ensinam não a viver,
Mas a sonhar e quem se fia na virgem e não corre, morre virgem, fez da vida o desperdício
Em vez de desperdiçar a vida e o triste além de triste, torna-se no pior, em tédio
E viver aborrecido é ter vontade de morte e ter vontade de morte não é viver,
É ser cobarde e esperar pelo óbvio e inevitável e eu sei tão pouco para mim mesmo
E tanto para os outros, porque é sempre fácil, piscar o olho a quem passa lá fora,
É sempre fácil quando não temos a carne demasiado carne à nossa volta,
A exigir-nos eternidade em tão pouco tempo, e chove, e os carros passam
Não muito longe e esperam, os colegas, os amigos, num lugar onde fui e não trouxe,
Mas sou, e hoje acordo só por causa do cinzento, a sua promessa de bruma, ao menos isso.

10.05.2012

Turku

João Bosco da Silva

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