Lição De
Poesia
para a D.,
Sento-me
mais uma vez onde se escreve poesia, na solidão, inspiro o vazio que me enche o
peito
E lá sigo, o
poeta, riem-se uns, diz que é poeta troçam outros poetas e eu não digo nada,
Só me sento
onde se escreve poesia, na solidão e inspiro bem fundo o ar que vem do abismo,
Sorrio-lhe
como quem tenta disfarçar as lágrimas que se encostam ao limite da revelação da
dor,
Toco as
estrelas para formar cada palavra, queimo os dedos, tudo em nome de nada, tudo
para
Dar voz ao
vazio onde ecoam impossíveis, onde os sorrisos se tornam gotas amargas no momento
Onde todos
os outros momentos memórias, sento-me mais uma vez, onde uma vez me sentei
Há muitos
anos atrás, onde nada vi, nada encontrei a não ser a materialização da dor,
Uns dizem
que é emoção, mas que outra emoção pode sentir um poeta cevado com niilismo
Depois do
desmame de uma educação católica, tinha melhores coisas para fazer, sim tinha,
Temos sempre
melhores coisas para fazer do que escrever poesia, ainda por cima, má poesia,
Debruçar-nos
sobre o abismo de nós mesmos tentando encontrar o nosso reflexo e então
O abismo
sorri e surge um poema, imperfeito, como o sorriso no espelho depois de se
lavarem os dentes,
E parecem
impossíveis, aqui, aqueles sorrisos que as fotografias dizem que se sorriram,
agora,
Que ela distante,
que ela tão impossível como antes, que ela longe da vida e a vida menos vida,
Ela no vazio
que me enche o peito e me leva os dedos às estrelas, onde se queimam, ela a mãe
Da minha
solidão mais profunda quando volta as costas, ela que tantas insónias me
acompanha,
Quando fecho
os olhos e procuro uma recordação para mais um verso e lá sigo, riem-se uns,
Eu rio-me
com eles, de mim, não enquanto estou a ser poeta, nunca sorri enquanto escrevia
Um poema,
poesia é coisa séria enquanto se faz, como fazer amor, não foder, foder é
brincadeira,
É ir
fazendo, lendo, gemendo, dizendo isto ou aquilo, poesia não diz nada, arranca
um pouco
Do poeta e
pinta uma emoção, que os que se riem provavelmente não conseguirão identificar,
Uma cor
estranha, porque a vida deles é eterna, uma longa gargalhada, uma ressaca que
nunca chegará,
Eu tento
matar-me aos poucos para evitar sentar-me aqui, onde me sento, inspirar um ar
Onde não te
encontro, cheiro a minha própria pele na esperança de um pouco de ti,
Ainda a
latejar como o luar quente de Agosto, mas só te encontro quando fecho os olhos
e suspiro,
Só te
encontro enquanto me debruço sobra a tua ausência e tento fazer-te de versos.
10.09.2012
Turku
João Bosco
da Silva
Lindo isto.
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