Palidez De Um Lençol Em
Forma De Cadáver
para a Rachel Noble War,
Vão apressados, dizem com
os lábios que olá, e levam-no para o frio, chegou de lágrimas quentes,
Descubro o lençol e
digo-me adeus, que pálido consigo ser, pensa o de olhos fechados,
E o elevador fecha-se em
direção ao rés-do-chão, eu convencido de que afinal e tinha razão,
Não valeram de nada as
páginas sujas com palavras, nem os outros papéis conspurcados com esperma
E sumo de cona, até o
cheiro se dissipará, como as palavras que os dedos onde as unhas crescem
Sem crescerem, um dia
arrancaram da carne da alma, onde só carne no fim de contas, a porta abre-se
E eles empurram, me,
esboçaram um olá, para mim, pergunta o de olhos ainda verdes, se calhar,
Responde-me o burro de
Zaratustra na sua sabedoria de montanhas e traficante de droga de aldeia,
As calças brancas
esperam-me em frente ao hospital para um anoitecer carregado de sexo
E o último autocarro
perdido, os ovos queimados e a fome uma bebedeira de vinho do porto
Que faz esquecer a hora
do leite lhe jorrar pela cona adentro, o anel de sangue à volta
A coroar-me e é o que
fica, de resto um nome por consideração ao garoto daquela festa
De Verão, a acreditar em
encontros no tanque de lavar a roupa, onde bebem as vacas
Cansadas de pastar o dia
todo e do orgulho das suas tetas inúteis de leite depois
De fecharem a ordenha em
mil novecentos e noventa e pouco, na doçura das maçãs roubadas
Como beijos, como se os
olhos dos avós não vissem todos os pecados que andamos a fermentar,
Leio agora no lençol que
afinal não era a minha beleza, mas a minha indiferença perante a beleza,
O que lhes abria as pernas
e as levava a sugarem-me todo depois de me ter vindo alma e tudo,
Não fim nada, passei a
vida a desperdiçar vida e agora está tudo feito, fui bom a perder tempo
A enganar-me nos caminhos,
fui bom a andar às voltas saindo do sítio e melhor ainda fui
A marcar para o
esquecimento e a sujar como quem tatua os contornos do meu caralho em
Peles escorregadias e
interiores regurgitantes, descubro o lençol e alguém me pergunta,
Que quieres que te haga,
em cima de mim, com tetas de cabrita de quem emagreceu rapidamente
Mesmo que manhã de Natal,
está tudo bem, continua, e ela puxa o lençol mais uma vez
E cobre-me a cara,
adormeço enquanto me empurram em direcção ao frio e só acordo quando
Fecham a porta com a
indiferença de alumínio, quase choro quando ela me limpa com uma toalha
Já com esperma seco, me
nega aquela morada na sua barriga tão quente, onde poderia ter vivido uns
Anos mais, não só uma
noite de cuba libres e gritos contra as ondas estranhas de uma praia
Asfixiada por turistas
durante o dia, a recepcionista do hotel dá-me um beijo apaixonado
Depois de ter discutido
bêbada com o namorado e sinto-me mais descansado, por levar alguma
Madeira, dedos livres e
aquele livro que guardei para um dia que acabou sem me dar conta,
Sempre dará para acender
o lume daquela fogueira onde perdi a alma que tinha vendido ao Diabo
Pela mortalidade, um
lugar no céu dos ateus e ainda bolsos cheios de pastilhas de troco,
Quase não pecava
encostado aos muros do cemitério de Montmatre, mas o marido já a esperava,
Ainda me dói o frio
daquela mentira às putas de São Petersburgo, amanhã, quando o último dia,
Olá, devias ter poupado
alguns versos, os lábios mudos no silêncio frio, devias ter ido mais
Fundo, mais baixo, porque
o limite era este e só ficou o que não esqueceste dentro de ti.
16.01.2013
Turku
João Bosco da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário