Pela Estrada
Nacional
Às vezes
quando não sei por que versos ir, meto-me pelas estradas nacionais em direcção
Ao tempo em
que aquelas pousadas não a pele decadente e cinzenta que os donos
Ganharam com
a humidade e as saudades do monóxido de carbono e gasolina com chumbo,
Cheira-me a
Estado Novo, tudo aquilo, até passar na decadência das termas e beber encostado
A um muro
que conheceu gente que hoje nem dentes, já ninguém acredita na saúde,
Queixa-se ao
ar frio da sombra verde, tudo se esqueceu das promessas quebradas por estes
Lados e
continuam a envelhecer, a curar as mentiras para as comerem pela eternidade
fora,
A minha avó
advertia-me, tinha medo que fosse preso por pintar um bigode ao gajo
Do cartaz
eleitoral afixado na porta de madeira grossa da adega, mas aquilo parecia uma
violação
À
propriedade do meu avô, à entrada do vinho um mentiroso, mesmo que naquela
Altura me
parecer que o Cavaco era um gajo porreiro, por alguém com o nome dele numa
T-shirt me
ter dado um chocolate barato e ainda deve ser família, ainda me visita
Com uma
tartaruga ninja, que pedi, e não recebi no Natal, nem no aniversário, nem
nunca,
Mas afinal
se lhe esperasse uma promessa, teria que me meter pela IP4 ou nunca lá chegava,
As pousadas
e os restaurantes resignaram-se ao sono dos donos e os filhos seguiram em
direcção
Ao fluxo
mais grosso, tudo em direcção a uma fossa sanitária que nem sei por que versos
me meta,
Sinto perto
o cheiro da ressaca de vodca para os lados do Conde Ferreira com a sua cor
De nem sei
que infantilidade envelhecida com a evidente distância das noites em que
Troquei o
risco do amor, de uma foda vá, pelo menos uma trinca no lábio inferior,
Pela
segurança da amizade, há estradas que valem a pena pelo tempo que levam a
chegar-se
Ao mesmo
lado nenhum que as outras apressam, vou por aqui, que gosto da ilusão do
caminho.
20.01.2013
Turku
João Bosco
da Silva
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