domingo, 20 de janeiro de 2013



Pela Estrada Nacional

Às vezes quando não sei por que versos ir, meto-me pelas estradas nacionais em direcção
Ao tempo em que aquelas pousadas não a pele decadente e cinzenta que os donos
Ganharam com a humidade e as saudades do monóxido de carbono e gasolina com chumbo,
Cheira-me a Estado Novo, tudo aquilo, até passar na decadência das termas e beber encostado
A um muro que conheceu gente que hoje nem dentes, já ninguém acredita na saúde,
Queixa-se ao ar frio da sombra verde, tudo se esqueceu das promessas quebradas por estes
Lados e continuam a envelhecer, a curar as mentiras para as comerem pela eternidade fora,
A minha avó advertia-me, tinha medo que fosse preso por pintar um bigode ao gajo
Do cartaz eleitoral afixado na porta de madeira grossa da adega, mas aquilo parecia uma violação
À propriedade do meu avô, à entrada do vinho um mentiroso, mesmo que naquela
Altura me parecer que o Cavaco era um gajo porreiro, por alguém com o nome dele numa
T-shirt me ter dado um chocolate barato e ainda deve ser família, ainda me visita
Com uma tartaruga ninja, que pedi, e não recebi no Natal, nem no aniversário, nem nunca,
Mas afinal se lhe esperasse uma promessa, teria que me meter pela IP4 ou nunca lá chegava,
As pousadas e os restaurantes resignaram-se ao sono dos donos e os filhos seguiram em direcção
Ao fluxo mais grosso, tudo em direcção a uma fossa sanitária que nem sei por que versos me meta,
Sinto perto o cheiro da ressaca de vodca para os lados do Conde Ferreira com a sua cor
De nem sei que infantilidade envelhecida com a evidente distância das noites em que
Troquei o risco do amor, de uma foda vá, pelo menos uma trinca no lábio inferior,
Pela segurança da amizade, há estradas que valem a pena pelo tempo que levam a chegar-se
Ao mesmo lado nenhum que as outras apressam, vou por aqui, que gosto da ilusão do caminho.

20.01.2013

Turku

João Bosco da Silva

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