“Après Le Déluge”
“Depois, na grande mata
violeta em botão, Eucáris disse-me que era Primavera”
Rimbaud
Ouve-se o rastejar de cobra por entre o silvado, sentado no
muro, espero, uma mão nas costas,
Volto-me e é o sorriso de uma giesta em flor, então amigo,
duas borboletas desaparecem
Num erotismo alado próprio das cores que lhes vestiram os
genes pequenos, o sino da igreja
A dizer que foi deus que as vestiu, para sentir repugnância
pelo amor plural, deve querer
O buraco do cu cheio de sacrifícios, fumos pestilentos, pão
duro, órfãos e ovelhas cegas,
O Sol troça dele, inventou-se para explicar o rastejar das
cobras num mundo de mãos
Que se agarram a tudo com medo à noite, o mundo consome-se
em anos
E os segundos, silenciosos, roem o fervilhar das moscas à
volta da sua própria merda,
A eternidade mora nos silêncios sentados, duros e de erosão
lenta, onde se escreve
Do tamanho daquilo que se vê, num trono onde só os deuses
reais se sentam imaginados.
23.05.2013
Torre de Dona Chama
João Bosco da Silva
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