Trepanação De Jerónimo Bosch
para Richard Marx
Um cavalo branco pasta num lameiro enquanto uma cidade
adormecida arde sob uma Lua incerta,
Os porcos ressonam nas suas mansões de água e o povo grita
com a boca cheia de cinzas e sede,
Arrotam os pançudos satisfeitos das conas vendidas das
pobres que se querem habituar a luxos
Com os quais não cresceram, renascem, anéis em dedos
ridículos a cada vez que a gaita lamacenta
Dos pançudos suínos lhe escorre da cona santa para quem é
cego suficiente para as amar, o cavalo
Pasta e tudo ignora, a erva é fresca e verde, a cinza nem se
sente a cair sobre o branco, as chamas
Só se alastram nas paredes sujas que encerram toda a merda
humana no seu esplendor aflito para
Evitar um fim que é a única salvação, impossível, porque a
água está cara para quem ainda quer
Conservar o que ainda não tem preço, mas vende-se, a honra,
abençoa-me lâmina num hara kiri
Desmedido, abre-me todo o nojo para fora, uma boca
suficientemente larga para vomitar toda a merda,
Tripas e tudo, ou isso, ou deixai-me pastar sossegado, que
já anoitece e a noite promete ser clara.
Lisboa-Coimbra
20.05.2013
João Bosco da Silva
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