Magnólia
E sem querer, estava metido na pendente chuva de sapos,
primeiro a banda sonora a entranhar-se
Nos meus dezasseis anos, não queria ser poeta, mas a falta
de coragem nas mãos para a carne e na boca
Para as palavras, levaram-me a isto, escreve-me uma mensagem
para lhe enviar e ainda hoje juntos,
Também eu ainda estou preso a isto, agora é mais limpeza,
não tenta chegar a ninguém, apenas tenta
Sair de mim e aliviar um pouco o vazio com a ilusão de uma
ausência, quando se cospem palavras em
Magnólias, deve esperar-se a explosão da Carmina Burana,
estranho como me consideram uma pétala
Quando ignorava que nós flor, o que queria era apalpar o cu
duro da colega e continuar inocente a ler
Nietzsche, a engolir Platão, a apaixonar-me por
pequenos-almoços na América como se tivesse saudades
Do tempo em que não era nada, o tesão lá ia aliviando de
olhos fechados a ver nas pálpebras aquela paixoneta
A lamber a rata daquela outra que nunca me olhou com olhos
húmidos, enquanto a fodia, ou como
Imaginava que se fazia, também vais lá, e eu julgava que se
referiam às torradas com leite achocolatado,
Ou porque tinha comprado um livro do Hemingway no
hipermercado contra a vontade da minha mãe,
Que só considerava livros de verdade os manuais escolares,
hoje pouco me interessam os anéis
De Saturno no chão em Chaves, mas ajudou-me perceber que há
coisas piores que a morte e que há
Sempre uma porta aberta que fecha tudo para sempre, nunca
chegaram a cair os sapos, engoli-os todos,
Depois deixei de sorrir pela luz e esmaguei a magnólia entre
mais uma livro que nunca acabarei de ler,
A areia sacode-se, mas tem-se sempre vontade que anos mais
tarde, se encontre alguma nos bolsos,
Como encontrar um pedaço da alma que lá ficou, onde se
passou.
Turku
20.04.2013
João Bosco da Silva
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