Regurgitações 3
As uvas amadurecem, ou como o vejo, apodrecem no seu doce,
uma implosão quente,
O Sol troca a tarde pelo crepúsculo como quem troca Os Maias
e os cães ladram nas ruas
Estreitas onde poucas mentes mais estreitas passam, em direção
à pipa ou à mulher
Embrutecida pelos anos, ou ao homem embrutecido pelo encornamento
e o fumo lento dos
Cafés ou das lareiras no Inverno para o fumeiro e outros
chouriços, tudo parece tão distante em
Setembro e mal a cinza assentou, mal o fígado se repôs das
longas noites para nada,
Sanita abaixo, cona adentro, alguém racha lenha e dá um
peido, despedidas que já
Arrefeceram, ninguém aprende que nunca se volta quando o
tempo não se pode rebobinar,
Fica só o vazio e a separação, o lagar aguarda o esmagamento
que é o Outono, sangue para o
Arrefecimento gradual do sangue, ao ritmo do encolher dos
dias, as motas Zundapp e Sachs
Tentam arrastar-se a tempo do jantar, o fim sem consolo do
final do dia, o mais certo
Que se leva é o sal na pele do suor que entretanto secou, o
sino da igreja de Tromsø dá as oito
Horas da noite, a madeira não crepita, cansa-se do
pragmatismo nórdico, em Helsínquia a
Catedral lava-se da cor rosada do fim do dia e o Inverno não
tarda, tão longo, por cá fermenta-se
O que se fodeu sem nome, a vontade, aniquila-se, o sentido
sem direção, as crianças vão aos
Lodges cheios de turistas buscar água para o fim do dia em
Maasai Mara, os russos continuam
A ser os maiores sob a barba de Dostoievski e o Hotel
Chelsea espera pelo vinho azedo de tantos anos
Espremidos pelo tédio e desespero, é o desprezo que mais dói,
onde se escreverá a sangue
A última linha, sem ponto final a rematar a diarreia desta
gastroenterite apanhada pelos sentidos
E pela sensibilidade à despedida das andorinhas, as de
Fevereiro em Nairobi, mais silenciosas,
Com medo do Sol e das águias com olhares de colonizador
inglês, o Saimaa já lavou tudo
O que se trouxe e este ano haverá pouco vinho, que se foda a
fermentação, o Sol emagrece os
Olhos de sede e Miguel Torga, jaz, silencioso, numa estante
de livros que despiram mais do que a sauna.
Torre de Dona Chama
08.09.2013
João Bosco da Silva
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