Saimaan Rannalla
aos,
Onde a água é dourada ao fim da tarde tardia, os barcos
passam e nem se vê neles
A passagem da vida, sente-se a escorrer, a água do lago, lágrimas
inversas, o prazer
Da pele quente pelo Sol leve filtrado pelo verde, engole-se
uma Olvi na ilha do museu,
Confessam-se todos os pecados em segredo ao castelo,
enquanto se grita alto
Liberdade, roubam-se os talheres do restaurante medieval
para se esquecerem
Numa oxidação inocente entre erva grossa, as loiras brilham
mais que o Sol,
As garrafas de vinho enterram-se na areia à espera do amigo
italiano, enquanto
Se juntam troncos para criar uma homenagem à amizade e à
felicidade do pouco,
Sozinho à beira do Saimaa, não é possível sentir-se triste,
a cambada toda com
Peixes frescos, assados na madrugada, e caixas de vinho
barato português,
O mais barato, cigarros enrolados na improbabilidade da
companhia, mergulhos
Sem pudor, apenas carne e gente, a água benta dos católicos
purificada
Pela fria água do lago, os dedos dentro da tocadora de
kantele, os peixes
Brilhantes na ressaca de uma noite de cona de dezanove anos
entre as coníferas
Da ilha pequena ao lado do casino antigo, a arte de viver na
arte, a caverna perto
Da estação onde se caga para a esterilidade branca do que se
vende aos olhos
Ignorantes dos estrangeiros, a cerveja que esperava onde se
escoam as chuvas
E a neve dos meses que derretem, o podre tem outro sentido,
purificador,
O leite é uma necessidade fotogénica e há beleza em tudo,
até em mim,
Sentem mais os olhos que não traduzem que todas as
dissecações da terra,
A bicicleta desiste da corrente e leva-me ao lago, acabo em
arbustos
E com o sabor metálico do sangue misturado com vodka barata,
é no local
Do costume, onde sempre é casa, venha-se do inferno que se
venha
E no fim do dia, janta-se muikku sem intenções, entre
vietnamitas, belgas,
Espanhóis, chineses e americanos, e a noite traz óculos de
sol e vestidos
Pretos e brancos manchados com esperma e um agradecimento
sincero,
Ao ritmo de um ressonar bêbado, na cama do quarto da porta
aberta.
05-12-2013
Coimbra
João Bosco da Silva
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