Noiva De Vermelho
Tu és mais, eu
consegui ser
esquecimento.
Ela casou-se de vermelho, houve sinceridade na cor, com a
naturalidade de uma segunda vez,
Desta, quem sabe, mesmo do admirador de hóquei no gelo, a
primeira filha também de
Vermelho, mas inocente, da idade da que poderia ser minha,
de vermelho como os lábios
Da mãe naquela manhã fria de Primavera cinzenta, depois de
um café no restaurante
Da bomba de gasolina, a empregada a perguntar-me se queria
mais alguma coisa, não obrigado,
Só estou a fazer horas para ir dar uma foda encomendada,
numa manhã húmida, as florestas
Pântanos acesos, um dia perfeito para, trazes os
preservativos e eu a manta, se estiver Sol,
Seco, fodemos na floresta, tenho mesmo que te foder, dizia
vestida de branco, dizia ao Sol
À beira do lago Saimaa enquanto emborcávamos uma cerveja e
falávamos de pouco e nada,
Além da necessidade de termos que foder, como se fosse algo
que se tivesse que comer
Por estar quase a chegar ao fim o prazo de validade, ainda
trazia o cheiro a Paris entranhado
Nos poros, talvez fosse disso, tenho mesmo que te foder,
temos que combinar, dizia com
O noivo excitadíssimo com o mundial de hóquei no gelo, não
me lembro em que país,
Viva o amor e os vestidos de noiva vermelhos com filhas duvidosas
com os olhos da cor de
Outras possibilidades nascidas em pântanos e contas de
cabeça apressadas pelo medo de,
A dar quase certo, quatro, cinco dias, como é possível,
foda-se, será, furaria ela a negação
De além futuro, mas não, nunca o contrário, nem uma semana e
já estava a receber
Ejaculações do noivo, ainda devia cheirar a sexo e latex no
carro dele, cheirar a pressa, a dela,
Deixa-me provar-te, não, quero só que me penetres, entesa-me
com a sumo a escorrer-me
Já pelas virilhas, salta-me em cima e parece um cavalo
desesperado pela meta,
Sou apertada não sou, sentes como estou molhada, nem a
paisagem se consegue apreciar
Com tanta pressa, a cerveja, depois de horas na floresta,
escondido dos olhos do auxílio depois
Do pagamento do karma em forma de lama, já metabolizada, o
útero já esquecido do latex
Dentro do carro do noivo, não quero preliminares, quero que
me entres já, baixando as cuecas
Juntamente com as calças, e eu um excelente linguístico,
apreciador de humores secretos,
Montou-me desesperada por um vestido de noiva vermelho,
imagino o dia feliz, com Sol,
Como o que acabou por vir à tarde, depois de me ter vindo
para um saco vazio, ou não sei,
Já com a pequena capaz de levar as alianças, as fotos no
anoitecer tardio de Verão, daqueles
Longos sem chegarem verdadeiramente ao limite da escuridão,
será que ela sabe, não interessa,
Está tudo atrás, tudo pela janela fora, ficou tudo dentro,
seja no interior estéril de um preservativo
Integro, seja no útero infiel com um sorriso pálido de ninfomaníaca,
tudo o que é real e
Sincero é o dia de vermelho, a felicidade mostrada no
momento e na cabeça dele,
Nem um sinal, só eu e ela a visão dos seus cornos, quando
ele o inocente, e o que é
Um momento, uma ideia, não estamos para abdicar, cumprir e
sacrificar o desejo
E já se sabe que o desejo sabe sempre melhor quando
vermelho, vestido de vermelho,
De vestido vermelho, não com as calças de equitação, mesmo,
calças de equitação,
Umas cervejas e um pacote de bolinhos típicos, depois de
muito tempo na floresta
Pantanosa, com os tomates vazios, com as calças novas e a
camisola que a mãe
Tinha enviado para o aniversário, não um vestido vermelho, o
sangue do mês,
Impossível, será, nunca o saberei agora, tudo camuflado por
uma família feliz
E pela minha Psicose de Karsakov, ou não, sempre tomei as
minhas vitaminas
Do complexo B, não é Buk, ao ver as fotos do casamento
penso, será que ainda é capaz
Daquela manhã, quando fecha os olhos num dia de vontade ou
numa noite de sonhos
E remorsos ou saudades, provavelmente só os meus dedos são
capazes de recordar o que
A minha vida tocou nas vidas dos outros.
13-02-2014
Torre de Dona Chama
João Bosco da Silva