Golden Axe
Uma tosta mista às quatro da tarde à beira maldição e o que
queria mesmo era jogar
Golden Axe até aos olhos em bico, cinquenta escudos, era tão
barata a felicidade,
Longe de putas e outras vendidas, hoje tão distante, não me
vejo sorrir em lado nenhum
E o meu nome é ignorado como tudo o que é comum e
silencioso, vendia a alma por
Um nome barulhento e um espírito ordinário, nem sei se hoje
há jogos de futebol,
Nem li o último livro daquele que dizem ser grande poeta,
fecho-me e ouço cá dentro,
Além dos ecos de todos os gemidos em forma de promessa, a
música do Final Boss,
Tão longe se chegou há tantos anos para agora isto, uma
tosta mista às quatro da tarde
Numa cidade que me desprezou tanto quanto o que me apercebi
dos dias cinzentos,
Não falhei nem um, mesmo assim, não fui batido, meto mais
cinquenta escudos,
Continuarei a saltar em cima da merda e a salpicar burgueses
e donos dos direitos,
Engolirei todo o nojo e seguirei em frente enquanto espero,
um dia, diz quem lá está,
Eu escondo-me na fome e na solidão, em páginas amarelecidas
e no cadáver dos sonhos
Cobertos por pó e indiferença, sou o undertaker dos meus
próprios desejos, enterro-me
Na solidão dos outros e trago comigo os murmúrios da única
sinceridade de que são capazes,
Agora chega, isto não é Earls Court, lá fora está Sol e tudo
é o fim de alguma coisa, vão-se
Acumulando pequenos-almoços tardios como poemas indigestos,
vamos a mais uma tentativa,
Menos cinquenta escudos, o gordo tombará e o machado será
dentro dele entre tripas e
Todas as palavras que calará, os melhores poetas são os que
calam quando têm mais que fazer.
Coimbra
20/03/2014
João Bosco da Silva
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