Sobre O Poema
O poema, o poema não interessa, o importante é o percurso
até à vontade do poema,
A vida consumida que dará carvão para poder surgir o registo
do que ardeu, do que
Se sacrificou para poder existir na forma do que pode ser
absorvido pelos olhos estranhos,
E digerido de uma forma sempre diferente, uma digestão
inversa, entropia de pernas
Para o ar quando se lê, se recria aquilo que o poema se
torna e é, não o poema, mas
O que o poema é nos olhos alheios aos dedos de quem o
escreveu, o poema, esse,
Sozinho, que se foda, são palavras e as palavras não
interessam, não sem o que lhe
Dá razão de ser, não sem o que as suporta e justifica, como
o poema, sem os ossos,
E a carne e o sangue e o esperma e merda, não interessa a
ninguém, a não ser a
Corpos vazios como as palavras vazias, alimentados com
teoria e com a boca tão seca
De outras salivas, com os dedos manchados apenas com tinta,
olhos grossos por terem
Visto a vida a poucos centímetros e cheios de certezas de
cabelos brancos não merecidos,
O poema, o poema não interessa, mostra-me o que o trouxe cá,
isso sim, me alimenta.
06-03-2014
Coimbra
João Bosco da Silva
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