Montanha-Russa
Depois de tão pouco, o invólucro aberto do preservativo
continua onde os olhos o deixaram,
Intocado, há lugares que até o vento despreza, onde as
sombras reinam e são memória,
Ou aqueles minutos antes de se adormecer por completo e
quando os melhores poemas
Se tecem para ficar esquecidos na primeira mosca da manhã,
não interessa e repita-se
Que as caras barbudas dos quadros já mudaram mais que o desespero
dos suicidas,
As esculturas dos amigos estão tão cansadas de olhares
desconhecidos que desejam
Chuva ácida e a morte eterna no anonimato de um calhau à
beira de um rio de aldeia,
Estás perdido, há anos que estás perdido, mas como se pode
alguém perder dentro
Disto, a não ser que seja uma perda de tempo, que a vida
acaba por provar ser, não interessa,
Há inutilidades que permanecem inalteradas para nos lembrar
que a imortalidade nem sempre
Se encontra na arte, na fama, no barulho, em lado nenhum,
como mãos mortas em cavernas
Nunca descobertas para os lados de uma país qualquer da
idade dos outros todos,
Resta sonhar enquanto se dorme e esquecer o resto dos dias
por o que se acabou de parir,
Apostar tudo na incerteza, porque o tudo é tão pouco quando
se consideram os fracassos
Desde que se deixa de acreditar que o Sol nasce para aquecer
o menino e que o fogo
É para a mãe fazer a comidinha ao menino, um futuro possível
impedido, ao lado do rio,
O vestígio de uma mortalidade sem precisar do corte da
marcha-atrás, ali, ainda, depois de tão pouco.
Turku
10-04-2014
João Bosco da Silva
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