Monólogo Entre Bêbados
Caro mestre, ando há anos a tentar vender barato a minha
confusão,
Ninguém se interessa nestes dias, todos estão certos do que
os leva à felicidade
E continuam a comprar barato guias para finais felizes, em
caixões de pinho
E muitas flores, eu por este lado, continuo a tentar
distinguir entre uma
Indian Pale Ale e uma Californian Pale Ale, não é fácil
depois de um aperitivo
Difícil sem gengibre para
limpar o palato, seja como for, nada vale a pena,
As cidades têm demasiada gente vazia e uma cabana numa aldeia
quase deserta
Leva-nos a uma loucura seca e quase nos afogamos nas
multidões em nós mesmos,
Como em Big Sur, lembras-te, claro que não, o papel não
lembra, apenas relembra
Nos olhos que ainda se inflamam depois de muitos cigarros,
todos procuram
A morte até ela bater à porta, aí todos se cagam e era só a
brincar, alguém devia
Escrever isto numa casa de banho de um bar qualquer, é
nestas horas que somos
Mais lúcidos, na loucura de uma solidão entre felizes, como
é possível, depois de tanto
Horror ao longo da história da humanidade, poder-se dançar
perto da felicidade,
Nem nas pale ale se encontra um alívio, o pior da vida é a
tolerância que se ganha
Para as fugas, cada vez menos se consegue respirar num
momento de liberdade,
E a vida continua, paralelo atrás de paralelo, impedindo
pegadas ou levantamento
De poeiras desnecessárias já que a madrugada apaga tudo das
noites que fomos,
Por isso te digo, já ninguém quer saber da confusão dos
outros, mesmo que, se calhar
Nem me consigo vir, não interessa, querem, ponto final, tudo
o resto é um esquecimento
Fácil a caminho da felicidade que no fim de contas, não
passa de um caixão barato
Depois de uns dias a plantar miséria numa cama de hospital,
a cagar sangue,
A impingir pena a todos os que visitam com ar de enjoados, mas
agora sobre ti,
Diz-me, como é ser feliz, por aí, onde não se está?
Turku
11.06.2014
João Bosco da Silva
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