Não Me Chamo
Não me chamo Artur, se me chamasse assim, estava a
atravessar o Canal da Mancha
Com asas de pau a sonhar com tiros na mão e empurrões por
trás, mal vistos
Pela sociedade da aldeia, contudo sonho com o mar dos olhos
frescos e não invejo
A impossibilidade de dois átomos de hidrogénio e o seu
sucesso, chega-se a um ponto
Em que basta cagar ameixas que o deslumbramento dos
fascinados pela imortalidade
Das rugas persistentes, com algum acto de alquimia,
transformam em ovos de ouro,
Sou a inocência desesperada do gajo que troca a vaca pelos
feijões e o sonho,
No final cresce demasiado , torna-se desilusão, proporcional
ao tamanho da ilusão
Fermentada em sonhos acordados à luz do desencantamento de
poemas
Neorrealistas, enquanto vacas velhas endurecem a carne para
a fome dos dentes
Cada vez mais fracos, vence sempre quem nasceu para
humilhar, berços de ouro
Rodeados da felicidade esforçada que é o estrume da vida da
maioria, não me chamo Artur,
Nem acredito que a salvação esteja numa amputação após
pecados alucinados
Por fadas verdes e africanas, o meu nome é o que me dão e
nenhum é o meu, deixo correr
A vida e o cansaço desvia-me do leite amargo, duro, gasto-me
em pragas e outros gafanhotos,
Desisto de mim todos os dias e é tudo o que posso fazer, é
tudo o que tenho,
Essa possibilidade de desistir e persistir na corrosão do
coração pelo sangue ácido e pelo
Esperma venenoso, continuar a pedir mais um dia após a
inutilidade evidente do último,
Deixo isto escrito para os alquimistas da merda, que com as
suas vidas ocupadas
Encontram sentidos que não percebem na agonia dos
moribundos, a caneta é mais fiel
E real que a própria vida e no entanto está sempre afiada e
pronta para um ponto final.
Turku
15.07.2014
João Bosco da Silva
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