Bonecas Em Segunda Mão
Aos montes, umas completamente nuas, com as nádegas bem
firmes a brilhar
Sob a luz artificial, outras com uma bota só, algumas quase
vestidas, nenhuma
Com roupa interior, amontoadas umas em cima das outras como
se numa vala comum,
Ridiculamente baratas, a mais pequenina dez cêntimos, ainda
mentem o sorriso
Que lhe desenharam há anos, em tempos foram o brinquedo
favorito de alguém,
Em tempos tinham uma almofada só para elas, algumas
tiveram-na durante
Anos, outros provavelmente menos de uma semana, até que veio
outra nova
E lhes roubou o lugar e o amor, agora esquecidas à espera de
outras mãos,
Ou o lixo, as donas de algumas também já devem ter sido as
bonecas favoritas
De alguém, alguém que as despiu e também as deixou assim,
com as nádegas
A brilhar, a diferença é que a firmeza destas se perde e
também perdem
A facilidade das almofadas alheias, há as que continuam a
ser favoritas,
Mas não são brinquedos de ninguém, são amadas, são mães,
ninguém as esquece,
Não têm preço, mas não deixa de haver as que esperam quem as
leve
Para casa, por um preço simbólico, resignadas, usadas, em
tempos bonecas com quem
Todos queriam brincar, cobiçadas, sonhos quebrados que se diluíram na
carne.
12.09.2014
Turku
João Bosco da Silva
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