Deve ser pecado, de certeza que era, se o coração batia mais
rápido,
Se dentro crescia uma excitação que tomava conta dos
músculos
Em direção a, era pecado, mesmo que não fosse uma
transgressão
Digna de registo num livro agora apagado e sujo, que difícil
era
Ser feliz e livre no tempo em que deus e as velhas tinham
olhos
Em todos os lados, nos palheiros, nos poços dos lameiros, na
paredes
Das casas abandonadas, na tasca, nos quartos da casa da avó,
Nos pipis das primas e até nas próprias cuecas e mãos,
Que snifavam inquisidores, que cheiro é este, cheios de
saber,
Aquele pecado de
entrar num poço, quase nus, com um pedaço
De ganga à volta do intocado, rangando a cobertura de
merugens,
E penetrando com os pés descalços na lama viscosa do poço,
Ao mesmo tempo que o pedaço de ganga se levantava
E as vacas adiantavam caminho em direção ao povo,
A água fria, envolvia-nos com um prazer quase erótico,
Deve ser pecado, por isso sacudimos bem as merugens
Que ficaram agarradas à pele e limpamos bem os pés,
A pele fria, nada do inferno quente dos pecadores de que
falam,
Só um relaxamento quase pós-coito, as vacas em direção
Ao toque do sino da igreja, elas também olhos de deus
E das velhas, pecado ou não, soube melhor que a hóstia,
E a leveza, a caminho atrás das vacas, bem mais real
Que aquela que dura uns momentos e se vai ainda antes
De desaparecer o cheiro a incenso, depois da confissão,
Esquecida limpeza logo após o vislumbrar das cuecas
Da catequista sentada no muro do adro e um foda-se.
19.11.2014
Turku
João Bosco da Silva
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