terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Boa Noite

aos velhos amigos,


Realmente, ficamos bem aquém daquilo que esperamos de nós mesmos,
Ao menos ainda esperamos mais que ter alguém que se interesse por nos fotografar
As mamas, esperamos viver de nada e não ser reconhecidos por nada,
Houve um tempo em que uma cabana, numa vinha, onde o Sol permanente,
Com as paredes recheadas de todos os livros, que não se teve tempo de ler,
Hoje espalhados entre a falta de vagar e as horas de pirataria e salivação
Condicionada, hoje a cabana vazia nos sonhos arquivados nas resignações,
A vida é assim, sim, alguns tiveram que ir para longe, outros para mais longe
Ainda, e tudo passou a valer a pena uma ou duas vezes no ano,
No tasco da terra, quando se bebem umas cervejas até aguentar o Sol
Da manhã durante umas horas, jogando ao xino com uma das últimas figuras mitológicas
Da vila, por isso, és um borracho, não dos que mostram orgulhosamente
O vazio da sua caixa óssea nos bares e discotecas da periferia, e são pagos por isso,
Ainda houve quem criou uma possível metade numa sueca,
O que pior sabia jogar nos intervalos, enquanto uns semeavam sonhos menores,
Sem contar com os medos da descendência gerada em pântanos nórdicos,
Ficámos por aqui, entre filhos, casamentos porque teve que ser,
E até se é feliz, entre cornos, e filhos, melhor nos casamentos dos amigos,
Até se vai andando bem na língua dos outros, também é o que é,
A vida, trabalhamos oito horas por dia, muitas vezes não se sabe bem
Para quem, nem onde tantos segundos são transformados em riqueza,
Não a nossa, não, ninguém sabia cantar, houve ilusões de câmara na mão,
Mas de actores, nem de gaita na mão de madrugada a fingir medo
E fodas em tendas na mira da foice de um psicopata serial-killer,
Que nem sempre o são, nós nem uma coisa, nem outra,
Morreremos e seremos apagados em menos de cinco décadas
De cinco cérebros no máximo, tudo o resto foram cinzas de sonhos
Levadas pelo vento do tempo, ficámos aquém, mesmo assim,
Nunca ninguém esperou que fizéssemos aquela curva na estrada de província.

24.02.2015

Turku


João Bosco da Silva

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