Da Passagem Da Sede
aos avôs,
As videiras superam-nos em longevidade, enrolam-nos os
sonhos,
Espremem-nos o suor, extraem de nós toda a violência adiada,
Coram-nos pelos invernos fora e sobrepuseram a sede à fome
maior,
Alguns muros caíram, as cerejeiras cansaram-se e foram
engolidas pelo monte
E pelo fascínio dos pastores pela Lua vermelha e o Sol
cinzento de Agosto,
Na base das garrafas verdes cria-se depósito com o que
sobrou das memórias,
A história não reza, há missas para isso e as videiras
ignoram isto tudo,
Esperam que alguém lhes areje os alvéolos duros carregados
de xisto,
A terra que irá cobrir todos os esforços e sacrifícios, até
a infância
Deve ter ficado debaixo de uma videira, à sombra, a comer um
cacho
De uvas americanas, rodeada de vespas e escorpiões, com medo
da noite
E das latas que batem ao vento para espantar os javalis, as
videiras
Continuam a estrangular com a sua inocência vegetal os
herdeiros
Do mosto da última vindima, espera-se que o vinagre não
chegue
Antes de Setembro, entretanto, vai-se acordando, verde,
Todos os dias, até sermos uma vez mais, superados pelas
videiras.
Turku
04.03.2015
João Bosco da Silva
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