Arrancar Batatas (Variação de um poema de Billy Collins)
Quando ia às batatas, de manhã cedo, com o ribeiro como som
de fundo,
O suspirar da égua velha, mais tarde do motor constipado de
ferrugem do motocultivador,
Cuspindo fumo espesso na manhã virgem, e encontrava um caco
ao lado de uma batata,
O caco de uma malga azul por fora, deixava por instantes o
frio na ponta dos dedos,
Imaginava outras gentes, o campo cheio, a malga inteira e
cheia de vinho para matar
Uma sede barulhenta, mais alta que o motor velho, imaginava
outro tempo,
O mais certo, é que aquela malga fosse do meu avô, esquecida
quando o meu pai
Era eu, outro tempo não tão diferente quanto a neblina que
subia do rio me fazia imaginar,
Os mortos mais jovens, os vivos à espera, agora a aldeia
quase fantasma no Inverno
E no Verão uma ilusão holográfica, deixa esse lixo, vamos acabar
de apanhar isto
Antes que aqueça, depois já brincas, então deixo cair o
caco, dizem que a gravidade
Não é uma força, é uma manifestação holográfica qualquer,
uma ilusão, contudo cai,
E o mais certo é voltar a encontra-lo numa manhã mais tarde,
mais gasto, eu, quebrado, eu,
A cabeça em cacos, o cemitério cada vez mais cheio, de memórias,
de certezas
14.04.2015
Turku
João Bosco da Silva
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