sábado, 25 de abril de 2015

Na Recepção Do Hotel

Este país cansa-me até aos ossos, esfarela-me a paciência, eu que esperava
De ti um país limpo e honesto, com menos promessas e mais respeito,
Menos barulho e mais coragem, em vez de demasiado joelho no chão
E nariz empinado cirurgicamente, tanta fartura e tanta fome na pele,
Falam sozinhos, ou com os paralelos, olham bolsos, depois virilhas,
Às vezes só mesmo os pés, só há olhos no umbigo, há sempre um mal estar,
Ou um calor fora de época, ou um frio húmido que cria bolor na alma,
Esta gente sem espelhos sempre tão convencida da importância da sua opinião,
Tanto pombo à espera de migalhas e gaivotas prontas a roubar-te a comida do prato,
A boa vontade é um fraqueza nesta terra de chicos espertos, parasitas,
Não há sossego sequer num banco de jardim à sombra, nem um sorriso gratuito,
Nem uma mão aberta que não espera algo em troca, o punho sempre pronto,
Este país com a sua guerra civil fria, servida com sorrisos amarelos
E camuflada com boas maneiras à moda colonialista para inglês ver.

Lisboa (Conde de Redondo)

17.04.2015


João Bosco da Silva 

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