Solstício
Não vale a pena, para quê, já está tudo cheio de donos do
direito, tudo ocupado por vazios
Diluídos, um volume imenso de nada, o Sol falhará sempre os
dias cinzentos e o Inverno
Regressará para engolir as folhas das videiras, até o vinho
ficará azedo como o amor
Que não se bebeu todo quando havia sede naquelas noites
quentes, agora pousa a caneta,
Mete as mãos nos bolsos, esconde o ridículo, aperta as
calças, deixa o interior da solidão
Em paz, olha para outro lado, deixa as pupilas dos outros sossegadas,
as suas dilatações
Não merecem os silêncios
que lhes semeias nos lábios, tira os óculos ou arranja uns se não
Precisares, não vale a pena, para quê, vais dizer o que foi
dito ou o que se sabe
E só espera um meio de se transmitir de uma forma menos
universal, sacudir o pó
Ou pintar por cima do óbvio, deixa mas é as folhas caírem,
deita-te na erva, fecha os olhos
E não vejas além do verde, não vale a pena, não te dês nem
te vendas, muito menos
Te imponhas, deixa o esquecimento levar todos os sonhos e
dores, lavar a poluição
Em que te tornaste, no fim uma pedra com um nome gasto de uma
vida apagada
Antes do seu fim, não vale a pena, apaga a luz e espera pelo
fim da noite.
19.06.2015
Turku
João Bosco da Silva
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