quarta-feira, 24 de junho de 2015

(A)Parições

“a quantidade de criaturas que a nossa destruição vai destruindo uma a uma”
António Lobo Antunes

Nascemos em tantos lugares, de tantas formas, para morrer apenas uma definitiva vez,
Num último lugar, nascemos num primeiro beijo, de um olhar espelhado,
Nascemos quando entramos pela primeira vez no desejo de alguém, nascemos na mão
Que aperta a nossa pela primeira vez, nascemos num mergulho no espelho,
Num garfo cheio e estranho que nos explode na língua, nascemos nas asas de uma gaivota
De água doce que nos persegue até de madrugada numa noite branca, nascemos na timidez
Que se ultrapassa num salto e numa gargalhada quase louca, nascemos na queda da pele
Queimada por um Sol equatorial ou nas gotas inesperadas do suor Árctico de uma pele dourada,
Nascemos no gole lento e na sua descida apressada, no calor que se dissipa em nós,
Nascemos no céu de Verão à noite, entre as estrelas no espaço vazio entre a ilusão e o sonho,
Nascemos a cada momento que esquecemos, a cada palavra que nos salva e poderá ser
Sempre a última, este é o útero que nos gera, onde fermentamos, amadurecemos
E amargámos, é o teu berço e todas as faces são a tua, todas as camas a tua,
Todas as portas são apenas um nome, outro nome e outra história, o mesmo fim.

Savonlinna

22.06.2015


João Bosco da Silva

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