(A)Parições
“a quantidade de
criaturas que a nossa destruição vai destruindo uma a uma”
António Lobo Antunes
Nascemos em tantos lugares, de tantas formas, para morrer
apenas uma definitiva vez,
Num último lugar, nascemos num primeiro beijo, de um olhar espelhado,
Nascemos quando entramos pela primeira vez no desejo de
alguém, nascemos na mão
Que aperta a nossa pela primeira vez, nascemos num mergulho
no espelho,
Num garfo cheio e estranho que nos explode na língua,
nascemos nas asas de uma gaivota
De água doce que nos persegue até de madrugada numa noite
branca, nascemos na timidez
Que se ultrapassa num salto e numa gargalhada quase louca,
nascemos na queda da pele
Queimada por um Sol equatorial ou nas gotas inesperadas do suor
Árctico de uma pele dourada,
Nascemos no gole lento e na sua descida apressada, no calor
que se dissipa em nós,
Nascemos no céu de Verão à noite, entre as estrelas no
espaço vazio entre a ilusão e o sonho,
Nascemos a cada momento que esquecemos, a cada palavra que
nos salva e poderá ser
Sempre a última, este é o útero que nos gera, onde
fermentamos, amadurecemos
E amargámos, é o teu berço e todas as faces são a tua, todas
as camas a tua,
Todas as portas são apenas um nome, outro nome e outra
história, o mesmo fim.
Savonlinna
22.06.2015
João Bosco da Silva
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