Acto De Contrição
As latências do passado regressam de madrugada para
manifestarem universos paralelos
E outros, e ses, o saco mais cheio, as mãos mais vazias,
porque o vazio das mãos mede-se
Pelo que passou por elas, há quem se enforque de mãos cheias
em romances de província,
Vale também a pena o que não foi, à medida que os anos
passam é cada vez mais
O que se deixa passar e ao contrário de nos tornarmos o que
nos toca, somos o
Vácuo da nossa cobardia, o passado envelhecido, coberto por
anos a esticar números,
Com a felicidade mais recente e desta também para sempre , a
ressonar ao lado,
Com a cabeça de vinho branco num Verão que se arrasta entre
promessas e adiamentos,
A arte de se tornar um cadáver ressentido está no cansaço
das mãos, na aversão
Às taquicardias consentidas, perde-se um universo a cada
decisão que não se sente tomar,
O passado quer ensinar um fóssil inocente que habita uma
gaveta qualquer no sótão
Da alma, quer ensinar-lhe o afogamento da carne em vontades
e submissões ilícitas,
Quer ensinar como a felicidade é fazer malabarismo com o
coração à beira de abismos,
Mas o anjo do apocalipse olhou demasiadas vezes para trás,
tornou-se pedra de sal,
Faltaram-lhe muitas vezes lágrimas e a força para
despedidas, deixou-se ir e vir
Demasiadas vezes como se uma vingança passiva e mal
dirigida, agora dorme como
Quem foge, as ruas tornaram-se em pastelarias quando os
bolsos vazios e os olhos
Uma fome maior que o estômago pode imaginar, ao lado a sua
felicidade dorme
E ressona sossegada, ignorando o que à almofada se
acrescenta por omissão.
10.07.2015
Turku
João Bosco da Silva
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