Hipercubo
Nos teus lábios todos os verões que não vivi, noutras
décadas, noutros lugares,
Em tons pastel com garrafas de água verdes e outras sedes
que nunca apaguei,
A tua voz muda nos ouvidos como nos sonhos, o teu cheiro a
promessa de uma tempestade,
Eu sei, mesmo que os receptores opioides intocados pela tua
pele dourada,
Um dia serão todos e tudo, a mancha de café sobre o poema
que te escrevo de todas
As formas possíveis e nunca mancha, como eu todos os outros
que se poderiam
Aproximar de ti, viver em ti, desaparecerem por ti, nesses
verões que não vivi,
Nessas praias que quase visitei numa escala medida com
sonhos e memórias primordiais,
O universo realmente não se joga aos dados, mas ao cara ou
coroa, até ao infinito
E o resultado já estava decidido antes da mão, que nunca nos
teus lábios quentes,
Da cor do algodão doce que toca na língua húmida de mais
olhos que barriga,
Nos teus lábios todos os verões que não vivi, todas as
promessas que não quebrei.
09.09.2015
Turku
João Bosco da Silva
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