Lapidação Dos Paralelos Da Rua Da Igreja
Nos meus dedos a urina contaminada das décadas entranha-se
nas unhas
Que tudo prometeram e deixaram uma marca fina e breve,
Nos meus sonhos o esperma ingrato de todos os dias de
almofada a almofada,
Agora esperam o reconhecimento nos reflexos das pupilas,
Esperam que cegos e mudos sejam o espelho da sua fome e não haverão
cus
Suficientes para tanto talento, dos amigos, dos amigos, dos
amigos,
Os dentes filtram os dejectos lentos das palavras que não se
mostram,
Sorri-se num desespero de amanhecer, tudo gelado no fundo de
cada inspiração,
As unhas, as unhas esquecidas de todas as profundidades
inesperadas,
Inocentes de todos os pecados dos dedos, tecendo poemas em
corpos
Monossilábicos, vertiginosos nos ângulos sinuosos das almas
húmidas,
Que esperas da noite vazia, se não lhe dás oportunidade de
arrefecer,
Nos meus olhos a desilusão prévia daquele corpo antes da
palavra.
19.09.2015
Turku
João Bosco da Silva
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