Rio Tuela Revisitado
Ao longe através das giestas ouvem-se carros a passar numa
estrada para uma aldeia
Quase deserta, os peixes bicam-me os pés, as cobras sem medo
aproximam-se
E uma apoia-se-me no hálux, faz-me saltar como se alguém de
repente apagasse
As luzes e eu ficasse novamente criança, como quando
atravessava o rio nas costas
Dos tios e à noitinha se iam buscar as redes para jantar
peixe frito e na rede uma cobra
E bastante água engolida, perdoo-vos tudo, perdoai-me não
vos evocar todos os dias,
Torna-se cada vez mais difícil manter o universo todo consciente,
quase nem se dá
Pela cobra apoiada no dedo do pé, não fosse um toque mais
frio e o salto,
Porquê se inofensiva, a morte em tantos outros lados, será
que o meu avô saltava
Ao ver um copo de vinho, não, mas o copo voava e vazio, umas
pingas no chão
E envergonhado pelo garoto não saber nadar, agora sei, e
quero lá saber das cobras,
Coexistimos com tantas de sangue quente, que se apoiam calorosas
sem pingo
De inocência, pode ser que um pouco de curiosidade, a cobra
toda ela um risco curioso
Serpenteando a água até ao fundo do rio, escondendo-se do
medo de sangue quente,
Subo a fraga do outro lado do rio e seco ao sol, a pele
sente-se cada vez mais,
Como conseguiu tão pouca pele esticar tanto, a cona da irene
do outro lado
À sombra, a única companhia silenciosa além dos gritos e
risos de outros verões
Levados por mil brisas atrás, mil sonhos esquecidos em
almofadas alheias,
Sou agora a testemunha do rio que corre, sou um salto de
medo, só ele permanecerá.
17.09.2015
Turku
João Bosco da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário