A Fogueira Que A Distância Apaga
“pensar em ti é ter
seguro
outro universo inteiro
onde não estou”
António Franco
Alexandre
Ainda me fascina a proximidade das distâncias, o rei morto
que ainda impele os gritos
Contra as portas geadas, acendendo fogueiras de tradição que
apesar do atropelo dos anos
E do esquecimento definitivo dos velhos, continua,
sobrevivente a extinções maiores,
A incendiar corações maltratados pela saudade, os nossos
olhos foram treinados
Para distâncias, contar monte atrás de monte, galgar encosta
atrás de encosta,
Nunca esquecer, levar toda a gente, a terra inteira para
onde quer que se vá,
Sempre com a máscara que é mais nós do que a sorte que nos
deram, foi a que escolhemos,
Além naquelas montanhas onde o Sol se põe, vejo ainda
aquelas onde treinei o olhar,
Onde o Sol se porá mais tarde e a minha mãe dirá da varanda,
com o ar carregado
Com o fumo das lareiras, olhando o céu vermelho, meu filho, como
gostarias de ver este céu,
Imaginando-me mais longe, ignorando que ela também aqui, do
meu lado,
Vendo o dia a ser consumido pela fogueira que a distância
apaga.
Zurique
27.12.2015
João Bosco da Silva
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