Regurgitações 3
“E no entanto és gente,
sangue e terra
corpo vulgar crescendo
para a morte”
António Franco
Alexandre
A vida tornou-se nesta longa despedida, ao Sol, com uma sede
na pele como
Se fosse o último, no ar os ecos das chegadas, os sonhos
fossilizados na seiva
Do passado que escorreu das nossas feridas, a noite sempre a
mais familiar das estações,
Na companhia dos cães que ladram contra a solidão e nunca se
viram,
A Lua despreza o nosso olhar nostálgico e encara-nos
indiferente com a sua luz fria de pedra,
O verde brilha mais que a vontade de mais um dia, as
crianças completos desconhecidos
Que se perderão como velhos amigos, sentem-se os apertos de
mão mas não se
Reconhecem os olhares, tudo escorre ao ritmo viscoso de uma
despedida,
Que se engole e se sente até desaparecer algures no peito,
como uma chama
Que se extingue de cansaço, deixa-te ficar ao Sol na única
forma possível à ilusão,
Uma nota esquecida, entre um olá e um adeus.
26.12.2015
Torre de Dona Chama
João Bosco da Silva
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