Amigo E Cigarros
“É breve a vida; mal
sabemos
fiar um fio, e conceber
a seda,
já se gastou a areia na
ampulheta;”
António Franco
Alexandre
para o Rui Macedo,
Preciso desesperadamente de um cigarro, com um amigo,
soprando confissões de fumo
Na noite e sacudindo a cinza do tempo que consumimos como
verões,
Preciso de um cigarro e de um amigo, numa ponte romana, numa
regresso,
Num de muitos, agora menos que as partidas, ou em direção ao
luar, areal fora,
Com a maresia a testemunhar que ainda temos pulmões para a
vida,
Preciso de sujar um cinzeiro imaculado, como um sorriso
inesperado num dia cinzento,
Acendido por aquela mão que um dia me fez sangrar a carne
tenra,
E me amparou enquanto a alma e tudo se atiravam borda fora
para a geada,
Preciso de uma chama nos olhos familiares a dizer-me que foi
verdade tudo o que foi,
Até as mentiras que nos trouxeram aqui e agora, onde estamos,
Apesar do filtro onde tudo se apaga, cada vez mais próximo,
ainda somos nós,
Menos sonhos, mais pesadelos, menos ilusões, mais confusão,
No reflexo um estranho quase familiar, o luar mais perto, a
água do rio mais alta
E no peito uma incerteza perigosa que aperta e pede pelo
menos mais um cigarro com um amigo.
25.01.2016
Turku
João Bosco da Silva
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