Luzes Que Se Apagam Enquanto Billie Holiday Canta
Da janela do bar vejo as luzes acesas dos prédios do outro
lado da estrada, os carros passam,
Poucos a estas horas de Domingo de madrugada, a neve nem
aquece nem arrefece,
Espera o Sol, alguém morto canta e ainda se sente vida
naquelas palavras definitivas,
A máquina de escrever enferruja em toda a sua beleza
obsoleta, o relógio de corda
Luta contra o esquecimento inevitável, salta cada vez mais
segundos, no fim da rua,
Uma noite chovia nos meus dedos húmidos e quentes e à janela
de um prédio,
Alguém fumava um cigarro e assistia, encostados à árvore,
apetecia-me levá-la
Ao prédio em construção e fodê-la sobre uns plásticos e umas
ripas, agora, no prédio
Terminado, luz acesa e sonolência, mais um dia fotocopiado,
nada acrescentado a não
Ser a proximidade ao que foi acrescentado, eu longe, de
tudo, entre um encalhado
E um naufrago, acendo as luzes no quarto impossível, vou com
uma estrela que passa,
Terei sido naqueles lábios, para que se morre tantas vezes
em tanta gente,
Antes da música acabar, antes de se apagarem as luzes, em
frente apagam-nas,
Já acabaram de foder, não querem esperar pela consagração de
mais um abençoado,
Levanto-me e peço uma última cerveja, a caneta jura estar no
fim, esta noite espero não sonhar.
“Y POR FAVOR destruye
este papel
la poesia te sigue los
pasos
a mi también
a todos nosotros”
Nicanor Parra
28-02-2016
Turku
João Bosco da Silva
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